Ana Paula Padrão diz que precisa de mais estrutura no SBT

Jornal da Tarde

‘Eu não quero mais fazer jornalismo diário na TV’
Quatro anos depois de deixar a Globo para se jogar em um desacreditado jornalismo do SBT, Ana Paula fala da vida que está descobrindo fora do dia-a-dia das TVs

Engana-se quem pensa que irá encontrar na jornalista brasiliense Ana Paula Padrão, 43 anos, uma mulher amargurada, arrependida por ter trocado a gigante Globo pelo inconstante SBT. Mas Ana não está imune às chuvas e trovoadas. Uma delas: trabalhar com menos dinheiro, bem menos do que estava acostumada. Outra: Ana já desistiu de engravidar. Nesta entrevista ao JT, realizada há 5 dias por telefone, Ana fala de vida profissional e pessoal - se é que, no seu caso, dá para separar.
Você é idealizadora do ‘SBT Realidade’. Que planos tem para 2009?

Adoraria fazer um programa com mais notícias ‘quentes’, algo que acompanhe o que acontece no Brasil e no mundo. Para isso, preciso de uma equipe maior. Precisamos repensar isso.

O que pode ser repensado?

Primeiro, preciso de um novo acordo com o SBT. A gente tem apenas uma câmera e uma ilha de edição para trabalhar. E para trabalhar com notícias quentes, factuais, temos que aproveitar um tema da semana e sermos rápidos, mas eu não consigo fazer com essa estrutura.

E se o Silvio não aceitar? Você deixaria de fazer matérias sobre Obama e a crise, por exemplo?
Não. Mesmo não tendo um novo acordo de produção com o SBT minha equipe tem trabalhado com programas sobre crise e Obama. Estamos fazendo por conta própria porque é o que o público está pedindo.

O Silvio Santos já deu palpites no seu programa?

Nunca. Aliás, ele nem sabe para onde viajo. Eu recebo um orçamento e elaboro com o grupo quem vai editar o programa, quem vai pesquisar, etc. A edição é feita na minha empresa. Parte do meu acordo com a casa diz que a decisão de temas é minha.

Como você administra o dinheiro investido pelo SBT?

Eu recebo do SBT um orçamento fixo todo mês. Tanto faz se eu fizer uma viagem para o Alaska ou um programa na periferia de São Paulo. A gente programa com seis meses de antecedência o que vamos fazer. Se a gente sabe que em um determinado mês há programas caros, a gente faz uma relação de compensação.

Qual foi o momento de maior ‘dureza’ no SBT?

Foi na queda do avião da TAM, em São Paulo, em que eu tive que contratar cinegrafistas ‘free lancers’. Tudo isso é orçamento, e ele não aumenta. Mas o programa do Alaska foi caro porque aluguei equipamentos próprios.

O maior impacto de sair da Globo foi ter de administrar esse orçamento mais baixo?

Na Globo eu também era gestora. Mas um tsunami na Globo eu poderia cobrir, eu corria, acertava com alguém o orçamento planejado e pronto. Hoje no SBT, não posso fazer isso porque sou terceirizada e tenho um orçamento fixo.

Qual a diferença em colocar uma matéria na Globo e no SBT?

Como sigo um princípio de jornalismo que não mudou, a diferença não foi imensa, mas as estruturas são diferentes. A Globo tem uma área do Brasil muito mais coberta, com mais repórteres e com mais equipamento à disposição. Em compensação, eu descobri no SBT tecnologias que eu não conhecia. Uma delas foi a geração de imagem por internet em vez de satélite. É o ‘ se vira nos 30’.

Mas qual foi a mudança na sua vida pessoal?

A diferença básica foi que eu pude abrir minha empresa. Hoje eu faço vídeos corporativos para empresas privadas, organizo eventos, produzo matérias internacionais. Enfim, estou muito feliz, e fazia tempo que não me sentia assim. Eu administro minha agenda hoje, e decido para quem trabalho. Nos últimos dois anos, por exemplo, ganhei prêmios que antes não podia ganhar.

Você foi ‘podada’ na Globo?

Não, mas em uma grande empresa você não inscreve os materiais que gostaria que concorresse a prêmios. Nas grandes emissoras ‘eles’ decidem o que entra. Ganhei mais prêmios nos últimos quatro anos da minha vida do que eu ganhei nos meus 22 anos de carreira. Engraçado, não?

Como anda a produtora hoje?


A produtora hoje está investindo muito no mercado externo, principalmente Europa. Ou seja, hoje minha vida fora de uma emissora existe de verdade. Aliás, nunca imaginei que fosse tão bom abrir uma produtora independente.

Você está investindo no mercado externo mesmo na crise?

A gente está negociando com algumas empresas internacionais. São formatos de 30 minutos, outros quinzenais. Tem também algumas emissoras pedindo documentário. A crise existe, mas o mercado ainda não parou.

Como é trabalhar com Silvio?

Eu trabalho com o SBT, basicamente falo com ele nos fechamentos de contrato. Posso dizer que tenho uma relação cordial com ele, até de muita simpatia. Nunca tive nenhum problema, mas também sou muito disciplinada. Eu sigo o orçamento à risca.

Já pensou em reunir suas experiências em um livro?

Venho pensando demais nisso, estou recebendo muitas propostas.

Com tantas mudanças no mercado pensa em voltar à bancada?

Não quero mais fazer jornalismo diário. Eu não acredito nisso como um canal de comunicação necessário. Hoje a gente já tem tantas maneiras de assistir a um programa de televisão… No momento em que essa tecnologia for barateada, não terá mais sentindo existir um jornal às 7 horas da noite.

Mas você não sente falta da vida de correspondente?

Eu sempre tive muito medo em sentir falta dessa vida. Toda escolha exige um sacrifício. Surpreedentemente, nunca senti falta. Ganhei muito em felicidade e isso é mais especial para mim. A sociedade confunde muito glamour e felicidade. Não é porque você tem fama que você é mais feliz. Hoje eu tenho tempo, um casamento feliz, eu tenho um tempo.

Então sua carreira está prestes a ficar completa?

Estou no caminho. Nunca tive uma carreira linear. Sempre fiz coisas que as pessoas ainda não tinham feito. Eu converso com muitos jovens, e com eles aprendo os benefícios da tecnologia.

Pensa em largar o jornalismo?

Não, pelo contrário, eu não quero parar. Eu estou descobrindo tecnologias, me considero uma comunicadora. Quero novidades.

O que você acha do conteúdo da televisão aberta hoje?

O que eu acho é que uma coisa básica aconteceu na comunicação. Nós estabelecemos um padrão de qualidade na televisão que está desgastado. Veja, o You Tube é um fenômeno, é inovador. O mercado precisa começar a pensar no conteúdo colaborativo.

E a crise, preocupa?

Um pouco. De tudo que eu vi até hoje acontecer em termos de processos econômicos, esse parece ser o mais grave. Porém, toda esse processo de crise pode mudar o comportamento social. O conceito do luxo extremo e a qualquer custo vai mudar. Não estou pintando a crise de cor de rosa. Ela é ruim, isso é fato. O nível de comércio mundial muda, mas a mudança será de comportamento.

Agora com mais tempo, você planeja ter filhos?

Não. Eu passei um período fazendo tratamentos e aprendi que não se pode ter tudo na vida. Não quero desanimar as mulheres que tentam esses tratamentos, mas eu estava criando uma neurose. Um dia, quem sabe, eu adote um..

2 Comments:

Anônimo said...

ADOREI A ENTREVISTA.....ADORO ANA PAULA PADRÃO...ELA FAZ FALTA EM UM JORNAL POIS ELA PASSA CREDIBILIDADE A NOTICIA, O" SBT REALIDADE" É MUITO BOM POSSO DIZER Q É IM DOS MELHOR DA ATUALIDADE...SEMPRE COM MATERIAS DIFERENTES......BJUS E BOA SORTE....

ADOREI O BLOG.......

DIEGOOOOOOO

LEANDRO LP said...

continue comentando !